Quando falamos em tendência de consumo e inovações em alimentos, precisamos entender que existem diversos fatores determinantes que influenciam na demanda dos alimentos, incluindo os lácteos. As projeções do cenário de consumo para os próximos anos, envolvem dados de crescimento da população mundial, processo de urbanização dos países que se encontram em desenvolvimento, expectativa de vida e também do crescimento de fatores econômicos e escolaridade das classes sociais.  

Sabe-se que o número de pessoas no planeta vem aumentando consideravelmente. De acordo com dados calculados pela ONU, a população mundial, de 2,53 bilhões de indivíduos em 1950, subiu 170,01% até 2009, para 6,83 bilhões, representando uma taxa anual equivalente de 1,70%. Estima-se ainda um aumento de mais de 0,8 bilhão de pessoas de 2009 até 2020, a uma taxa média inferior à do período anterior, de 1,07% ao ano (ITAL, 2010).

O crescimento da população não é capaz de justificar totalmente os efeitos sobre a demanda de alimentos, mas também deve-se levar em consideração o nível de urbanização que é capaz de gerar grandes impactos ao mercado de alimentos. Com o desenvolvimento econômico, parte da população rural migrou para as área urbanas em busca de melhores condições, deixando assim de produzir seu próprio sustento. Essas pessoas passaram então a incorporar a economia de mercado, aumentando assim o consumo de alimentos processados ou industrializados.  

Alguns fatores podem interferir de modo qualitativo ou quantitativo na demanda por alimentos. Por exemplo, com o aumento da expectativa de vida da população a demanda por alimentos que são capazes de suprir as necessidades nutricionais tende a aumentar. Já com a diminuição do tamanho das famílias, a procura por alimentos que possuem menores porções terão maior demanda, com a maior escolaridade e melhoria de renda dos consumidores, os alimentos que possuem maior qualidade biológica, informações e transparência serão a preferência, tudo isso além é claro do aumento quantitativo do consumo, devido à maior renda.
 

A seguir encontram-se os principais drivers de valor para os consumidores que estão moldando o “novo mundo”. 

Saudabilidade
As pessoas estão se esforçando para ter opções de alimentos mais saudáveis, mais simples e fáceis de integrar em suas vidas diárias. Pode-se destacar a procura por alimentos funcionais que trazem benefícios ao desempenho físico e mental, ou mesmo até para a saúde gastrointestinal e cardiovascular.  

No setor lácteo possuímos alguns exemplos presentes no mercado, tais como os iogurtes com alta proteína, skyr, iogurte grego, kefir, leite fermentado, fontes de probióticos em geral. 

Segurança
A segurança alimentar está se movendo para o primeiro plano, com demandas crescentes de transparência e construção de confiança entre o consumidor e a marca. Os consumidores mais informados tendem a consumir produtos que possuem qualidade e segurança atestada, dando valor aos selos de qualidade, rastreabilidade, rotulagem informativa e outros meios de informações que as empresas utilizam para trazer clareza dos seus produtos e à sua marca. Declarações de alergênicos são essenciais para o consumidor que possui alguma alergia ou intolerância, já que estas informações devem devem estar de forma clara e objetiva para fácil identificação. 

Vêm utilizando-se no setor lácteo ingredientes que possuem como fonte extratos vegetais para colorir queijos e leites fermentados e bioprotetores que auxiliam no shelf life dos produtos, etc. 

Sabor
O sabor está se movendo além do padrão, estabelecendo experiências de sabor mais exclusivas e reais. Devido ao acesso à informação, a disseminação de receitas regionais e de produtos étnicos vêm ganhando o interesse de muitos consumidores em relação às novas sensações ao experimentar diferentes texturas, sabores e harmonizações, trazendo assim uma maior experiência sensorial.   

O skyr, iogurte grego são bons exemplos de texturas e sabores diferenciados dos produtos que já existem no mercado como iogurte colherável, por exemplo. Pode-se dar atenção também aos diferentes tipos de geleias que são combinadas à este tipo de produto, grãos que trazem funcionalidade ao organismo como chia, granola, quinoa etc. Queijos que além de possuírem o sabor típico, também são maturados com cultivos adequados e autênticos para formação de sabor, adicionados de ervas e condimentações que trazem mais sabor, realce.  

Conveniência
A tendência de alimentos que sejam convenientes e que tragam praticidade, são motivados principalmente pelo ritmo de vida de consumidores dos centros urbanos que possuem uma vida corrida, enfrentam o trânsito diariamente, que estudam, cuidam da família etc.
Devido a isso, a demanda por refeições prontas, semiprontas, fácil preparo, facilidade de transporte, embalagens de fácil abertura, fechamento e descarte ganham destaque. Também deve-se considerar os produtos para delivery, já que cada vez mais estão de fácil acesso devido ao uso de tecnologia e rapidez; sem levar em conta o período atual em que vivemos devido à pandemia do COVID-19, em que não é possível frequentar bares, restaurantes.
Já para os alimentos que são consumidos fora de casa, a demanda de produtos em pequenas porções como snacks, finger food, doses individuais também possuem maior demanda, já que podem ser consumidos sem dificuldade durante diversas situações do cotidiano.  

Como exemplo prático, temos os iogurte em doses menores e que possuem fácil transporte e armazenamento para crianças, iogurtes que são acompanhados de colher para um fácil consumo, independente do local; queijos em formato de palitos embalados separadamente. 

Autenticidade
O posicionamento da marca que busca identidade e autenticidade dos seus produtos são de grande importância para o consumidor. Empresas regionais aproveitam essa nova demanda do consumidor de saber de onde vêm a comida que se consome, do que ela é composta, quem está produzindo e qual é a “história” daquele alimento ou daquela fábrica. Os consumidores tendem a ser mais conscientes da importância de como, quando e onde o produto foi produzido, e em particular, do desperdício de alimentos e do impacto que o produto pode trazer ao meio ambiente.  

No mercado de produtos lácteos já se encontram exemplos de selos de origem regionais, embalagens de papel ou vidro, por exemplo que remetem ao artesanal e ao mesmo tempo fazem um link de autenticidade e respeito ao meio ambiente usando fontes renováveis. 


É interessante ter em mente como vários drivers de valor podem estar envolvidos entre si, já que a busca por alimentos é uma “negociação” entre estes valores e que o mais importante é resolver os dilemas que o consumidor enfrenta no cotidiano. Confira alguns dilemas que podem ser encontrados:
 
   

Sabor vs Saudabilidade
As pessoas tendem a achar que alimentos saudáveis são pouco atrativos e saborosos. Então como podemos produzir alimentos que sejam ricos em sabor e que trazem a saudabilidade para consumidor?

Conveniência vs Saudabilidade
Devido à rotina corrida dos centros urbanos, comer de forma saudável acabou tornando-se um dilema, pois requer tempo e energia das pessoas, levando em conta que a maioria da pessoas passam mais tempo no trabalho do que em suas próprias casas. É possível comprar pronto, levar na bolsa e desembrulhar um snack conveniente e saudável ao mesmo tempo?

Saudabilidade vs Segurança
A demanda por alimentos que sejam menos processados e mais naturais aumentou, e os consumidores tendem a preferir alimentos que não possuem produtos químicos e que sejam ricos em macronutrientes. Entretanto os alimentos frescos, não processados, tendem a ser mais instáveis e possuir menor shelf life, apresentando assim um risco de segurança para o consumidor.   
Sendo assim, como podemos fazer produtos que sejam mais frescos e mesmo assim manter a segurança do alimento?

Sabor vs Segurança
Consumidores tendem a achar que os alimentos produzidos por indústrias deixam a desejar em relação ao sabor e muitas vezes acabam preferindo os alimentos caseiros, artesanais. Entretanto sabe-se que podem existir riscos de segurança alimentar em relação aos produtos não industrializados.
Então como podemos levar mais sabor aos produtos e manter a segurança alimentar deles? 

Autenticidade vs Segurança
Alimentos industrializados necessitam resolver a questão do clean label, deixar o consumidor mais próximo à marca, familiarizado, seguro em relação ao produto que consome.  
Como podemos fazer produtos que sejam autênticos e seguros?  


Para finalizar, é importante ressaltar que as determinações de tendências de mercado não são necessariamente novidades, e por isso a indústria de alimentos deve estar sempre antenada às tendências e desafios de novos cenários de demanda, a fim de manter a competitividade e o posicionamento. Por isso é essencial que as empresas estejam abertas a pesquisa, desenvolvimento e inovação, sejam em produtos, tecnologia, embalagens, processos, ingredientes e meio ambiente, a fim de atender as exigências do consumidor cada vez mais crítico em relação aos produtos que consome.


VAMOS INOVAR JUNTOS?




Referências:
INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS – ITAL. Brasil Food Trends 2020. São Paulo: ITAL/FIESP, 2010. 24 p. Disponível em: <www.brasilfoodtrends.com.br>. Acesso em: 15 jul. 2020.

Publicado em 17 de Agosto de 2020
Autoria Latec Ingredientes